PERSONAGENS QUE A HISTÓRIA ESQUECEU

Os personagens aqui apresentados, hoje são desconhecidos de muitas pessoas. Seus nomes não estão em nenhuma placa, em nenhuma rua. Não fazem parte da história oficial e nunca tiveram qualquer destaque. Existem apenas no arquivo da memória. Alguns já se foram, outros ainda estão por ai. Este espaço tem por objetivo resgatar esses nomes que fazem parte da história folclórica e somam-se a tantos outros que discretamente, ainda hoje cruzam pelas ruas da Bossoroca, sem muita importância, sem chamar a atenção, vaga lembrança que amanhã ou depois, existirá apenas para quem conviveu com os mesmos. No entanto, eles escreveram e fizeram parte de uma história desconhecida, mas igualmente importante no contexto desta cidade.

AMANDIO LEMOS RAMOS - "Sorro"


Nasceu na Timbaúva, quando Bossoroca era o terceiro distrito de São Luiz Gonzaga, em 21 de junho de 1920 e faleceu no dia 01 de junho de 2011. Seu registro de nascimento só foi oficializado dois anos depois, em 1922, quando seus pais, Leôncio Lemos Nascimento e Vitória Ramos de Morais, por questões econômicas, levaram ao cartório seus dez filhos e entre eles, Amandio. Ingressou no exército em 1945, sendo voluntário para seguir com as tropas que iriam para a Alemanha, durante a segunda guerra mundial.  Seu ingresso nas forças armadas ocorreu juntamente com o Expedicionário Cícero Caetano Cavalheiro, que teve efetiva participação na segunda grande guerra. Deslocou-se de Bagé para o Rio de Janeiro com a finalidade de embarcar para a Alemanha. No entanto, por problemas de saúde, já que contraíra caxumba, não conseguiu cumprir seu intento. Após sua recuperação, foi convocado novamente. No Rio de Janeiro permaneceu com a tropa, na espera do navio que o levaria para a frente de batalha, em Berlim. Porem, 90 dias antes do esperado embarque, a guerra terminou e Amandio retornou à Bagé, onde estava servindo. Mais tarde deu baixa do exército e retornou para Bossoroca. Conhecido por todos pelo apelido de “sorro”, cuja origem vem da época em que estes animais infestavam os campos da Bossoroca, causando prejuízos aos fazendeiros. Pelas suas habilidades, tornou-se um grande caçador de sorros, chegando ao número expressivo de mais de 3.000 animais abatidos nos campos de Bossoroca e São Luiz Gonzaga. Hoje, já próximo de seus 91 anos, Amandio é “chibeiro” trazendo mercadorias do vizinho país da Argentina, onde vai semanalmente até a cidade de Porto Xavier, cruzando o Rio Uruguai até San Javier, onde adquire mercadorias que são revendidas pelo interior de nosso município. Em suas histórias, Amandio conta que foi domador e tropeiro com João Dutra, na época em que ele trabalhava de capataz de um fazendeiro, residente nos campos do Itaroquen conhecido por “Saragosto”..É primo do pajador Jaime Caetano Braun, já que sua mãe era prima de Dona Quida, mãe de Jaime. Apesar de analfabeto, Amandio é repentista, fazendo versos com uma estrutura poética de fazer inveja aos mais letrados. Nas suas andanças, quando moço, participou de inúmeros encontros de trovadores da região. Desses momentos, o  que ele mais gosta de lembrar, e o faz com orgulho, foi no ano de 1952, durante um desafio de trovadores, onde estavam Garoto de Ouro e Gildo de Freitas, realizado no Café Central, em São Luiz Gonzaga. Numa oportunidade, quando perguntaram se havia alguém que quisesse trovar com Gildo e Garoto de Ouro, Amandio apresentou-se fazendo um espetáculo à parte, sendo muito aplaudido e cumprimentado pelos dois grandes repentistas. Hoje, Amandio Lemos residia com sua filha Carmem, no Rincão dos Antunes.
São de sua autoria os versos abaixo:

E assim, meu caro amigo, se este verso lhe agrada,
por aqui vou recordar a nossa querência amada.
O gaúcho, pra ser gaúcho e ter nome no rincão,
tem que usar bombacha larga desse brim meio azulão
e um tirador bem comprido, de arrastar os flecos no chão.

Usar chapéu mangueira, que é isto que Deus permite
uma faca bem vazada e um revolver marca Schmidt
procurar sempre pelear e ganhar sem dar desquite.

Criar dois cachorros amigos pode ser dinamarquês
para ajudar o dono na peleia, sendo preciso uma vez
cada cachorro para um homem, e o dono, para dois ou três.

Na água não ser tão maula e não passar chapetonada
nadar mil e poucos metros com vinte e poucas braçadas
e passar qualquer floresta, sem precisar da picada.

Amanhã, se perguntarem, quem é que fez estas rimas
diz que foi Amandio Lemos, gaucho que não se intima
vai para todos os domadores,
e também pro Mano Lima.



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MARIA CARMELINA DA SILVA
- "Carmelina"

Foi num tempo não muito distante, que uma figura conhecida, com passos lerdos, num arrastar de chinelas, cruzava as ruas desertas da Bossoroca. Ainda essas ruas não tinham asfalto e nas pedras desencontradas, Carmelina fazia sua caminhada diária, sem saber exatamente para onde. Conhecida por todos e temida pela gurizada que xingava quando zombavam dela, a senhora simpática, de cabelos já grisalhos e desgrenhados e o olhar desconfiado, andava pelas ruas a conversar com um e com outro, sempre com reservas e sem dar muita prosa. Apesar de seu aparente desequilíbrio, Carmelina nunca importunou ninguém, sem jamais pedir qualquer coisa. Maria Carmelina da Silva, seu nome de registro, “da Silva como as demais”, chegou em Bossoroca, quando ainda mocinha, pelas mãos de dona Generoza, vinda do Carovi. E por aqui ficou, morando um pouco depois, na fazenda da Senhora Margarida Lena Nascimento. Permaneceu durante muito tempo sem registro de nascimento. Em 1976, ela mesma procurou o cartório local onde se registrou, tendo como data de nascimento, 29 de setembro de 1926. No entanto é quase certo que Carmelina possui mais de 90 anos. Com seu jeito simples e característico, conquistou o carinho de todos que a conheciam e tornou-se figura folclórica de Bossoroca. Hoje, sob os cuidados de uma de suas filhas e impossibilitada de andar, Carmelina é só saudades, vaga lembrança de uma época de ruas largas e ausentes, das mesmas ruas que hoje, estranhamente desertas, sentem a falta do arrastar compassado das chinelas da velhinha simpática, a vender sal temperado para ajudar no sustento de casa. Carmelina faleceu no dia 04 de fevereiro de 2012.

Na composição de Marco Guerra e Elair Chaves, um pouco mais da Carmelina.


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MARIANO (Néssio)

Na extensão da Avenida castelo Branco, à direita do trevo do trator, antiga saída para Santiago, localiza-se uma antiga vila da qual poucas pessoas tem conhecimento: A Vila mariano. Recebeu este nome em razão de um antigo morador, de nome Mariano, que na história da Bossoroca, foi chefe de seção, que na hierarquia da época, seria uma espécie de representante do sub-delegado, com todos os poderes para o exercício do cargo. Muitos o conheciam por "Néssio" e segundo alguns moradores da época, era uma expressão que significava "não é seu?". Contam também, que Mariano gostava de surrar as pessoas que, por alguma razão, precisava prender, no exercicio das funções de sub-delegado. No entanto, antes de aplicar o castigo, dizia: "vou te dar uns laçassinhos pra que tu fiques me querendo bem". Ninguem sabe extamente de onde veio Mariano, mas aqui ficou até aposentar-se, quando então, afastado das funções de "autoridade", resolveu exercer as funções de ferreiro. A Vila Mariano compreende o trecho do antigo mercado do Nezinho até próximo do cruzamento da via férrea. Naquele tempo, com a chegada dos trabalhadores da antiga Viação Férrea, Mariano viu a possibilidade de ganhar algum dinheiro com o aluguel de casas, as quais foram feitas aproveitando a produção de tijolos de algumas olarias existentes naquela região. Iniciou a construção de casas que eram alugadas e, posteriormente vendidas. Algumas ainda guardam as características originais da época. 

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MANDU

Na antiga saída para São Luiz Gonzaga, localizava-se a Vila Mandú. Iniciava onde hoje é a proriedade do Senhor Brasil Martins, estendendo-se até as imediações do atual Parque de Exposições. De propriedade de Juca Pinto, quando ocorreu a sucessão, Acácio ficou com uma parte. Sua orígem se deu na família Vargas, cuja propriedade estendia-se até depois do Parque de Exposições, após a curva hoje existente. Mandu foi um dos pioneiros no plantio do trigo em Bossoroca. A vila originou-se em razão da venda da área que costeava os trilhos, cujo "bico" foi loteado, surgindo assim, a vila Mandu. Conforme relatos, Mandu era um homem perigoso e andava sempre armado e, segundo falavam, era um exímio atirador. Alguns comentavam que já havia matado alguém no local de onde veio - Porteirinha, local que dera orígem a vários crimes, que na época pertencia para Santiago. Mandu tinha um único genro, que se chamava "Lurdes" e com o qual, não tinha um bom relacionamento. Lurdes tolerava a rrogância de Mandu, talvez pelo fato de ser seu sogro. No entanto, um belo dia  a paciência acabou. Naquele dia, Mandu o procurou disposto a brigar. Lurdes, quando o enfrentou, tinha apenas um pequeno facão e com ele, pos fim ao valente Mandu. Apesar da fama de bom atirador, não conseguiu acertar seu genro que desviando-se dos balaços, conseguiu chegar até ele e com o facão, abriu a cabeça de mandu, que caiu agonizando, talvez surpreso pela agilidade demonstrada pelo genro. Lurdes afastou-se do local para não ser preso. No entanto, mais tarde, foi levado à julgamento sendo considerado inocente. Depois, foi embora para Porto Alegre. Mandu tinha dois filhos. Um deles, de nome Itanir, era militar da Brigada Militar servindo em Bossoroca e outro, de nome Helio, comandava a brigada em São Luiz Gonzaga. Segundo informações, este fato ocorreu no potreiro, em terras da sucessão de Paulina Pereira, onde hoje está localizado o Banco do Brasil.

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